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Mostrando postagens de 2011

Inverno

Árvores nuas, tardes cinzentas, um dia que corre lento. Olhos semi-cerrados, tudo parece bocejar. Meu inverno se emoldura nessa espera, grande espera por tanta coisa, que eu já nem sei enumerar. Espero por tantos, e também por mim mesma; espero por cada novo dia que este frio vento me trará. Espero o despertar da primavera da minha alma, que um dia ganhará o mundo, seguirá seu rumo, fazendo da minha existência esse interminável verão que eu quero experimentar.

Eu disse adeus

Hoje eu te disse adeus. Não, não foi um até logo. Eu não escondi tua foto no fundo da gaveta; eu rasguei, pois não posso te devolver. Pensar em ti tornou-se um peso, que eu já não suporto carregar. Perdoe-me, mas não é fraqueza; eu apenas tentei ser forte por tempo demais. Eu andei tão mal acostumada com tua atenção, com teu olhar. Quando aqui estavas, eu era única; na tua ausência, eu sou mais uma. Eu nem tive tempo de te dizer as coisas que planejei dizer. Talvez, por sorte, tenhas aprendido a ler meus olhos, meus gestos, minha letra, minhas entrelinhas com tudo que estes queriam te contar. Sei que as lembranças permanecem, eu ainda aprendo a conviver com elas, eu prometo. Agora eu sei, eu entendi. Eu não preciso te esquecer, eu só preciso te deixar partir. Eu não preciso sofrer, eu só preciso te dizer adeus. Adeus.

Silenciei-me

- "O que dizer? Não era pra ser." Sentença tão sensata, a coisa mais exata, que dá tanta raiva de repetir.

Recado

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Minha letra estava perfumada de alegria, de antecipação e de saudade. Tua resposta veio rasteira, simples, objetiva, sem rodeios... teu jeito torto de carinho que eu nunca entendo. Tudo bem. Eu não vou chorar. O meu olhar não é o teu, e não há nada que seja meu agora. Um dia tudo isso será inundado de sentido, aí eu te decifro! E me decifro junto, combinado. Um dia as peças estarão no lugar certo, os passos compassados, e esse meu desassossego será só uma lembrança, enfim.

Falácia

Eu entendi a falácia do amor. Ela teima em dizer que existe um modelo, que foi predestinado, que é romântico, que será pra sempre. Nosso traço maior, que é a exclusão, transforma o imperfeito em não-amor, em distração, em acidente. Falácia das falácias, esperar seu príncipe, ou sua princesa, cavalo branco, carruagem e outras estórias. Tolice das tolices pensar no perfeito, sonhar o perfeito, esperar o perfeito. O amor perfeito permanece na ideia. Na vida real, só o imperfeito nos pertence.

Sonhos na gaveta

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Não me desfaço dos meus sonhos, guardo todos numa gaveta. Sonhos envolvem sentimento: sentimento não é perecível. Sonhos envolvem esperança: esperança não tem prazo de validade. Não me desfaço dos meus sonhos, guardo todos numa gaveta. Essa gaveta não tem chave. Sonhos envolvem pessoas: pessoas não combinam com trancas. Lá estão eles, cuidadosamente guardados, protegidos pra que não sejam maltratados pelo tempo, surrados pela hostilidade, constrangidos pela minha desilusão. Eles não morrem sufocados, são arejados pela minha fé, que ainda resiste, sim, apesar de tudo. De tempos em tempos, dou-lhes uma olhada, vejo qual deles já está no tempo de ganhar o mundo, de saltar para a vida. Não me preocupa mais a contagem do tempo, eu sei que eles não morrerão, sei que cada um aguarda a sua hora para acontecer, para ser livre... A gaveta é apenas um estágio, o espaço não é a essência. A essência do sonho será sempre a liberdade.

Um Retrato

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Eu aqui, dentro de mim, sou tantas outras, sou tão sem fim... Distante e evasiva, o olhar perdido da menina no quadro de Renoir. Uma cortina, uma neblina cobrem meu gesto, meu jeito, desajeitado caminhar. Tento compor o meu retrato, um relatório abstrato que boa rima não tem... Mas se assim o aceito, por vê-lo belo e imperfeito, me reconheço também. *Imagem: Auto-Retrato , de Tarsila do Amaral [1918]

Exposição

Já não se trata apenas dos meus pensamentos. Já não diz respeito apenas aos meus sonhos. Já não é meu segredo. Nada mais é só meu. É a minha letra que não mente. É o meu verbo que está todo impregnado de você.

Canto

Ora, ora! Vamos embora que o andar da hora não nos espera! Veja, veja! Segue a peleja, que a paz que goteja é pura quimera! Siga, siga! Alcance e bendiga a mão tão amiga que longe te espera! Cante, cante a alegria distante! Só te importa ir avante, ser além do que era!

Do lado de cá

Do lado de cá interpreto sinais, procuro vestígios, desculpas, motivos para entender o que não é meu. Do lado de cá eu traço rotas para a minha possível travessia, mas minha bússola se engana, sempre se engana. Do lado de cá monto quebra-cabeças, costuro uma colcha de retalhos: mil pedaços do que poderia ser, compondo um todo que não ganha vida. Do lado de cá bate sol, tem água e comida, tem chuva e tem estio. Tudo corre bem, para quase todos. Só no meu olhar falta um pouco de brilho. Do lado de cá permaneço, porque ponte ainda não há; ou apenas existe e persiste o meu medo de atravessar.

Teu Olhar

Teu olhar, um segredo: posso eu, logo cedo, algo novo prever? Teu olhar faz mistério, e se torna tão sério quando hesita em me ver. Teu olhar, meu espelho: mau exemplo ou conselho, o que vem me contar? Teu olhar, falsa mágica: uma nota tão trágica pode aqui retratar. Teu olhar, um veneno: sentimento pequeno faz crescer e aquece. Teu olhar, uma cura: é encontro e procura; me enxerga e esquece. Teu olhar, quase engano, levemente profano: quanto quer me iludir? Teu olhar toda hora me faz ir mundo afora, sem distância medir. Teu olhar eu encaro: tem um jeito tão raro, um feitio de dor. Teu olhar interrogo: é que espero, tão logo, entender tua cor.

Run!

Life is happening out there while you're standing here, only thinking about it.

Herança

Você partiu. Morreu na minha realidade. Ficaram as lembranças, um inventário de momentos, de ideias, de palavras, e de um silêncio derradeiro que me cortou os pulsos sem derramar sangue, que me calou a admiração, plantou insultos na minha boca, violentou minha esperança. Não houve anúncio; fiquei suspensa, tal qual equilibrista na corda bamba do desencanto, do desencontro... desassossegada espera. Hoje eu não sei de muitas coisas. Não sei o que você levou de mim, porque não há vazio algum aqui. Não houve nem há abismo entre nós, e como isso é possível, também não sei. Eu só conheço a minha herança, só vejo agora o que você me deixou. Presença. Verdade. O direito adquirido de te lembrar. E me liberta saber que será sempre meu, e todo meu, o direito de sentir saudade.

#55

E na hora em que recomeça a disputa eu sempre fico em dúvida eu logo penso: 'e agora?' Melhor ser mais um candidato na lista ou ficar do lado de fora?

Sob a lua

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Ontem vi a lua linda como nunca pude ver; penso em você, o tudo que ainda me importa querer... Me importa sentir a pele de sol, o cheiro de mar. Inútil é fugir, bobagem fingir que não compensa gostar. Eu peço, regresse! Aproveita o luar! Meu céu entristece quando fico a esperar. Pra que chegue e se achegue não exijo razão... Vem como a lua, leveza, suave beleza, minha inspiração.

Ano Novo

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Parei por dez minutos para pensar no que desejaria aos amigos no ano novo... sentimento até sincero, frases freitas, intenções repetidas. O que há de novo para desejar àqueles que amo? Parei por quarenta minutos para fazer a habitual retrospectiva dos tropeços, do que deu errado no ano velho... Mesma coisa: mesmos erros, mesmos planos, mesmo jeito, mesma espera de todos os anos... O que há de novo para que eu faça? Parei por uma hora para listar minhas novas resoluções... A dificuldade em torná-las diferentes das anteriores me assusta... Perdi duas horas, que não voltarão. O que fazer para criar uma lista totalmente nova? O que fazer para não lamentar, em doze meses, as mesmas falhas? A resposta está na pergunta... Fazer, não perguntar. A vida é muda. E ela só muda, se eu me calar e decidir viver. Aos amigos, Feliz dia novo! Recomeço todo dia. Menos barulho, mais ação.